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Maracaju, Mato Grosso do Sul, Brazil
Professora de Artes na Rede Estadual - Escola Pe Constantino de Monte

Morre a árvore, nasce a arte

Morre a árvore, nasce a arte
Escultura de Elmar Medeiros em Maracaju

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Modernismo no Brasil

Na virada do século XIX para o XX, a Europa vivia intensamente o rompimento com todo o passado artístico e cultural. As vanguardas europeias e outros movimentos que os seguiram, influenciaram os artistas e intelectuais brasileiros, que viajavam para a Europa, chegando ao Brasil eles queriam pôr em prática tudo o que aprendiam por lá.


Porém o Brasil teve sua arte moldada pelos modelos acadêmicos europeus que estavam já há muito tempo arraigados. As elites, camada abastada que podia ter acesso à Arte, estavam profundamente acostumadas com o antigo jeito de fazê-la, o academicismo e o naturalismo eram a “única forma concebível de Arte”, e o Modernismo não foi aceito de início.


Houve um primeiro acontecimento: em 1917 a jovem pintora Anita Malfatti, que acabava de voltar de seus estudos na Europa, fazia uma exposição de quadros "expressionistas" no centro da cidade. O respeitado escritor Monteiro Lobato não gostou de suas pinturas e, num violento artigo de jornal, perguntava se essa moça era louca ou estava querendo enganar a todos. O texto chamava-se "Paranóia ou Mistificação?" Muitas pessoas devolveram quadros comprados, outras agrediram a pintora e suas telas.
Esta foi apenas uma das manifestações do Modernismo que começava a chegar ao país. Mais tarde, acabou se fixando por completo a partir da Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo. Foi esse evento que disseminou as idéias que expressavam os tempos modernos - o arrojo, o dinamismo e a simplicidade.

A Semana fez mais: denunciou a alienação das camadas cultas em relação à realidade do país e criticou as desigualdades sociais, assuntos que, mesmo um século mais tarde, permanecem atuais no Brasil. Houve vaias e críticas, especialmente dos defensores do academicismo, mas o resultado foi a entrada do Brasil na modernidade.


Anita Malfatti

Primeira representante do Modernismo no Brasil. Nasceu em 1889 em São Paulo, que tinha menos de 50 mil habitantes e ganhava o primeiro transporte coletivo, um bonde puxado a burro. Teve má formação congênita na mão direita, o que a forçou a ser canhota e buscar a superação ainda muito jovem. Foi muito bem educada por seu pai engenheiro e sua mãe, poliglota, pintora e desenhista.


Aos 19 anos Anita formou-se professora, mas, na mesma época morreu seu pai, responsável pelo sustento da família. Ela e sua mãe passaram a dar aulas de idiomas e pintura. Seu talento com os pincéis sensibilizou o tio e o padrinho que a mandaram estudar na Academia de Belas-Artes de Berlim, em 1910, porém numa exposição, conheceu a arte “rebelde” cujas regras não eram ditadas pelo academicismo: ela se identificou.



Em 1914, foi aos Estados Unidos e estudou numa escola fora do academicismo. Ali deu “asas” à liberdade, sua criação eclodiu com força e Anita Malfatti assume um brilho singular. Consagrada, retorna ao Brasil segura de sua arte, e realiza uma exposição individual em 1917. 


















Porém, Anita com sua nova arte, representava algo muito inovador para os padrões da época, e sua maneira de perceber a arte “desarrumou” o que era aceito até então, causando desaprovação.
Considerada um escândalo, sua exposição trouxe consequências desastrosas para seu futuro artístico. Bombardeada por críticas, principalmente do escritor Monteiro Lobato, então, crítico de arte, justo um dos defensores de novos rumos para a educação e cultura no país


Com o título “Paranóia ou mistificação?”, ataca as obras de Anita comparando-as aos desenhos produzidos por internos nos sanatórios, ressaltando naqueles, a sinceridade. Por mais que ele enfatizasse o Modernismo em suas críticas, foi a ela que ele atingiu. Anita, tímida, recuou, murchou e entregou-se à depressão.




Nem a amizade com Tarsila do Amaral e os modernistas brasileiros convenceram Anita Malfatti a retomar seu traço marcado pelo Expressionismo. Abandonou seu estilo, estudou naturezas mortas, entregou-se aos retratos e ao decorativismo, e voltou a dar aulas de pintura desanimando-se a novas aventuras.  Como diria mais tarde Mário de Andrade: Ela fraquejou, sua mão, indecisa, se perdeu.” Faleceu aos 74 anos, em 1964, sozinha e sem filhos.









Semana de Arte Moderna

Realizada em São Paulo, no Teatro Municipal, de 11 a 18 de fevereiro de 1922. 


Aconteceu para renovar, mudar, subverter a produção artística, transformar o contexto artístico e cultural urbano, tanto na literatura, quanto nas artes plásticas, na arquitetura e na música. 


Criar uma arte essencialmente brasileira, embora em sintonia com as novas tendências europeias, essa era basicamente a intenção dos modernistas.


Durante uma semana a cidade entrou em ebulição cultural, sob a inspiração de novas linguagens, de uma liberdade criadora sem igual, e rompimento com o passado. 


Foram apresentados concertos e conferências, e exposições de artes em meio a barulhentas manifestações contrárias, vaias, chuvas de ovos e tomates. Novos conceitos foram difundidos e despontaram muitos talentos. A crítica não poupou esforços para destruir essas ideias. 


A República Velha, encabeçada pela elite do café e pela política sentiu-se violentada e afrontada em suas preferências artísticas.
No catálogo estavam, além de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Yan de Almeida Prado, Victor Brecheret, Mário e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, muitos outros mais. A música estava representada por autores consagrados, como Heitor Villa-Lobos.




A Semana de Arte Moderna não foi considerada tão importante quando aconteceu, mas o tempo revelou seu maior valor: Libertar a arte brasileira da cópia nada criativa de padrões europeus, e dar início à construção de uma cultura essencialmente nacional. 


Surgiram o Movimento Pau-Brasil, o Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta, e o Movimento Antropofágico, e os principais meios de divulgação destes novos ideais eram a Revista Klaxon, ATHENA Revista de Arte e a Revista de Antropofagia.







Tarsila do Amaral

"Quero ser uma pintora da minha terra". Foi assim que Tarsila do Amaral definiu sua ambição. Nasceu em 1886 e criou-se na fazenda de seu pai em Capivari, interior de São Paulo. De família tradicional e rica, estudou em São Paulo e a partir de 1902, em Barcelona. Ali, aos 16 anos, pintou "Sagrado Coração de Jesus", seu primeiro quadro conhecido. Em São Paulo, começou a estudar escultura com Zadig Mantovani, e depois, desenho e pintura com Pedro Alexandrino.
Em 1920, foi novamente para a Europa onde estudou na Académie Julian e no ateliê de Émile Renard. Em 1922, voltou ao Brasil e se juntou aos modernistas, mas não participou da Semana de 22. Junto com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia, formou o "Grupo dos Cinco".
Suas obras, de cores intensas e temas regionais, seguiam o conceito nacionalista do modernismo. Em 1928, pintou para Oswald o "Abaporu". Era uma pintura que poderia facilmente representar o Movimento Pau-Brasil. Também pintou temas urbanos, como em "São Paulo" (1924) e "Morro da favela" (1924). Retratou figuras humanas "A Negra" e "A caipirinha" de 1923, e registrou o interior brasileiro, como em "Cartão-Postal" e "Sol Poente" de 1929. Em 1933, com o quadro "Operários", ela deu início à pintura social no Brasil.

Fases da pintuta de Tarsila do Amaral

Primeiros anos 1924 – 1922
Início do Cubismo 1923

 Pau Brasil 1924 – 1928
 Antropofágica 1928 –
1930
Social 1933
Dos anos 1930 - 1950
Neo Pau Brasil  1950
Sagrado Coração de Jesus - 1926



Abaporu 1928
São Paulo 1924
Morro da favela 1924
A negra 1923

A caipirinha 1923

Cartão Postal 1928

Sol poente 1929

Operários 1933

Paisagem com touro 1925

Segunda Classe 1933
Batizado de Macunaima 1956

Auto retrato 1923 ou Manteau Rouge

Urutu 1928
A Lua 1928
A Cuca 1924
Antropofagia 1929
Idílio 1929
Anjos 1924
Carnaval em Madureira 1924
Estrada de Ferro Central do Brasil 1924
Vendedor de frutas 1925
A feira I 1924
O mamoeiro 1925
Paisagem com ponte 1931
A família 1924
Religião Brasileira 1927
A gare 1925
O sono 1928
Distancia 1928


Assista a este documentário de autoria da Globo News com  depoimentos, entrevistas, opiniões sobre o a Semana de Arte Moderna de 1922. Veja as falas de importantes estudiosos deste evento como Lívio Tragtenberg, Nuno Ramos, Marcos Augusto Gonçalves, Eucanaã Ferraz, e a interpretação da atriz Alice Assef. Detalhes incríveis da Semana que marcou o início da Arte Modernista no Brasil.

90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922 



Movimentos pós Semana de Arte Moderna


Após a agitação da Semana de 22, novos artistas foram expondo suas obras. Eles não eram adeptos aos princípios academicistas e valorizavam a cultura brasileira. Dentre eles está Cândido Portinari que nasceu em Brodósqui, estudou na Escola Nacional de Belas Artes, mas em 1928 ganhou uma viagem ao exterior, onde teve contato com os pintores mais importantes da época.


De volta ao Brasil começa a desenvolver características muito próprias, e a arte dos muralistas mexicanos passariam a ser parte importante em sua vida. 


São famosos os murais do então Ministério da Educação e Saúde, os da sala da Biblioteca do Congresso em Washington,


o painel “Via-crúcis” da Igreja de São Francisco em Belo Horizonte


e painéis “Guerra e Paz” da Sede da ONU. 




De um modo geral, valorizou algumas tradições da pintura, em telas pintou pessoas em suas relações de amizade, trabalho ou questões e dramas sociais, como “Meninos com pipas”, “Café” e a série “Retirantes”.






 Cândido Portinari utilizou alguns elementos artísticos da arte moderna europeia como Expressionismo e Cubismo.




Ismael Nery, que morreu ainda jovem, foi um dos nossos primeiros e mais representativos pintores ligados ao Surrealismo, movimento que busca sua temática no inconsciente, nos sonhos, nos delírios. Em sua obra sobressai a presença da imaginação criativa.



Cícero Dias é pernambucano e também estudou na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, porém cedo também abandonou as orientações acadêmicas para buscar um caminho pessoal. 



No início dos anos 1930 suas obras já tinham o estilo que marcaria sua pintura: tons de azul e vermelho em cenas da vida nordestina como em “Visão romântica do porto de Recife” e “Eu vi o mundo... Ele começava no Recife”.


Bruno Giorgi também esteve morando na Europa, e retornando ao Brasil, ao fim dos anos 1930 tornou-se modernista, influenciado pela amizade com Mário de Andrade. Em 1942, a convite do ministro Gustavo Capanema, fez a escultura “Monumento à Juventude”. 





Na década de 1950 passou a valorizar linhas curvas e formas angulares trabalhadas em bronze, e é dessa época a escultura “Candangos” criado para a Praça dos Três Poderes em Brasília. 



na década seguinte trabalhou formas geométricas em blocos de mármore branco, como a escultura “Meteoro” de 17 toneladas, que parece leve, flutuando no espelho d’água em frente ao Ministério das Relações Exteriores.



O grupo carioca Núcleo Bernardelli, recebeu este nome em homenagem aos irmãos Rodolfo e Henrique Bernardelli, que contribuíram para a renovação da arte brasileira. Dele fazia parte, dentre outros, José Pancetti, que pintou cenas marítimas.





 Porém, apesar deste grupo ser renovador, foi menos radical. Já o Grupo Sociedade Pró-Arte Moderna continha nomes fortes como o de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral dentre outros, e em sua primeira exposição trouxe obras de artistas modernistas do exterior, como Picasso, Léger, Brancusi e De Chirico. O Escultor Brancusi O Grupo Clube dos Artistas Modernos promoveu exposições diversificadas com concertos, conferências e apresentações teatrais.
Do Grupo Santa Helena vamos destacar Alfredo Volpi.




Em sua fase modernista, a partir de 1950, Alfredo Volpi deu valor ao estudo da cor em temas muito próprios do interior brasileiro: casarios, mastros, fitas e bandeirolas das populares festas juninas.



Clóvis Graciano privilegia a figura humana procurando expressar movimento. Realizou muitos murais para a cidade de São Paulo como “História do desenvolvimento paulista”.