As mulheres artistas de Mato Grosso do Sul têm em comum a mesma luta que
as predecessoras no Brasil e no mundo, lutaram para seguir sua vocação
artística, e quando conseguiram tomar a arte como profissão, encontraram a
mesma dificuldade que os homens: o distanciamento dos grandes centros onde
acontecem a formação, exposições, e toda a efervescência das novas vanguardas;
assim como a falta de reconhecimento do trabalho artístico como uma das
necessidades do ser humano.
Lídia Baís enfrentou esses obstáculos dentro de sua
realidade temporal.
Esta é sem dúvida a personalidade que mais desperta a curiosidade dos
estudiosos da arte no estado do Mato Grosso do Sul. Lídia Baís construiu para
si uma fortaleza de mistérios e proibições que ela mesma denominava de
claustro, e sua obra só veio a ser conhecida e disponibilizada ao público
depois de sua morte em 1985.
Caçula de numerosa e abastada família campo-grandense, foi desde muito
cedo estudar em internatos e colégios religiosos, onde foi ensinada a ser
passiva e submissa, mas não se conformou, e desejou ser livre pra seguir seu
caminho. Freqüentou grandes escolas no Rio de Janeiro, como o ateliê dos irmãos
Rodolfo e Henrique Bernardelli, e teve aulas com renomados artistas como, por
exemplo, Osvaldo Teixeira, na Escola Nacional de Belas Artes, que contribuíram
muito para a construção de suas obras.
Fez longa viagem pela Europa com familiares e freqüentou museus na
Alemanha e na França, conheceu personalidades brasileiras que por lá estavam e
viveu intensamente o meio artístico e social, mas ao retornar ao Brasil, foi
obrigada pela família a permanecer em Campo Grande. Contra
a vontade da família voltou ao Rio de Janeiro para retomar os estudos em arte e
promoveu uma exposição em dezembro de 1929, mas com dificuldades financeiras,
estabelece-se definitivamente em Campo Grande.
Na casa paterna ainda realiza pinturas murais, e para livrar-se de uma
interdição imposta por seus irmãos, casa-se no civil, mas não permanece junto
do marido e anula a união dois anos mais tarde. Seu pai vem a falecer logo após
seu casamento, e ela recebe sua herança, e ao contrário do que todos esperavam,
não vai para São Paulo, fica com sua mãe, e inicia um ambicioso projeto, o
Museu Baís (RIGOTTI, 2009).
O que era pra ser um local de exposições jamais foi aberto ao público e
Lídia Baís fechou-se também. Com o passar dos anos a excentricidade e o
mistério em torno de sua personalidade foi crescendo, e segundo a escritora
Raquel Naveira “era tida como ‘meio louca’ era uma personagem intrigante: uma
artista de alma amarrada e flagelada, talento que desabrochou e foi abafado na
marginalidade”. Segundo Paulo Sérgio Nolasco dos Santos,
Assim confinada, agiu como se respondesse às inúmeras
dificuldades das condições sócio culturais do início do século, no lugar e
tempo em que lhe coube viver. [...] pode-se ler em sua trajetória os traços do
artista que não só se isolou do meio artístico, como também reconhecer o fato
doloroso de que ser uma mulher, com vocação artística, nascida no início do
século em 1901 [...] fez com que sofresse intensamente as circunstâncias da
opressão patriarcal e social, caracterizadora dos costumes provincianos.
(NOLASCO dos SANTOS in RIGOTTI, 2009,
p.12)
Sua experiência adquirida com os irmãos Bernardelli, Oswaldo Teixeira e
Ismael Nery, iniciador do Expressionismo Cubista e precursor do Surrealismo no
Brasil, e que tanto influenciaram seu trabalho, foi desperdiçado, e exilou-se
frente da incompreensão de sua genialidade (RIGOTTI, 2009).
Parte integrante do Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Artes Visuais apresentado por Gizely Virginia Mendes Zaatreh ao Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRAN em Novembro de 2010.
Veja e leia mais à respeito de Lídia Baís seguindo o Link:
Overmundo Lídia Baís: Santa ou Pagã -
Clique para ler
Lídia Baís no Itaú Cultural - Clique para ler
Veja algumas obras de Lídia Baís
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Lídia Baís - Auto retrato com pincéis |
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Lídia Baís - Retrato do irmão |
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Lídia Baís - Auto retrato |
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Lídia Baís - Auto retrato Sagrado Coração | |
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Lídia Baís - Menino com Livros |
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Lídia Baís - Retrato de seu pai Bernardo Baís |
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Lídia Baís - Nossa Senhora com anjinhos |
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Lídia Baís - Retratos da Família Baís |
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Lídia Baís - Alegoria profética |
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Lídia Baís - Lídia como Nossa Senhora 1937 |
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Lídia Baís - Micróbio da Fuzarca |
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Lídia Baís - Exposição permanente no MARCO |
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Lídia Baís - Nú |
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Lídia Baís - Pintura Mural |
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Lídia Baís - Alegoria |
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Lídia Baís - Última ceia de N. Sr. Jesus Cristo |
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Foto de Família - Baís foi o primeiro italiano que chegou à Campo Grande |
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Foto da Família Baís |
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Fotos da Família Baís na escada da Morada dos Baís |
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Objetos de Lídia Baís |
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Quarto de Lídia Baís |
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Materiais de pintura e telas de Lídia Baís |
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Morada dos Baís - Foi o primeiro sobrado de alvenaria de Campo Grande, sua construção teve
início em 1912 e foi finalizada no ano seguinte. Seu proprietário foi o
Sr. Bernardo Franco Baís, pioneiro no comércio da região. Depois da
morte de seu proprietário em 1938, a família alugou o sobrado para o Sr.
Normando Pimentel, que o transformou em Pensão Pimentel, onde se
hospedaram inúmeras famílias tradicionais do interior do Estado e
ilustres personalidades da época no país, o trem do pantanal passava ao
lado. Em 1979, foi desativada, ficando por muitos anos abandonada. Em
1990, a Prefeitura Municipal iniciou a sua restauração, reinaugurando-a
em 1995 como Centro Cultural de Lídia Baís |
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Morada dos Baís antes da reforma e tombamento pelo IPHAN |