Na virada do século XIX para o XX, a Europa vivia
intensamente o rompimento com todo o passado artístico e cultural. As vanguardas europeias e outros
movimentos que os seguiram, influenciaram os artistas e intelectuais
brasileiros, que viajavam para a Europa, chegando ao Brasil eles queriam pôr em
prática tudo o que aprendiam por lá.
Porém o Brasil teve sua arte moldada pelos modelos acadêmicos
europeus que estavam já há muito tempo arraigados. As elites, camada abastada que
podia ter acesso à Arte, estavam profundamente acostumadas com o antigo jeito
de fazê-la, o academicismo e o naturalismo eram a “única forma concebível de Arte”,
e o Modernismo não foi aceito de início.
Houve um primeiro acontecimento: em 1917 a jovem pintora Anita
Malfatti, que acabava de voltar de seus estudos na Europa, fazia uma
exposição de quadros "expressionistas" no centro da cidade. O
respeitado escritor Monteiro
Lobato não gostou de suas pinturas e, num violento artigo de
jornal, perguntava se essa moça era louca ou estava querendo enganar a todos. O
texto chamava-se "Paranóia ou Mistificação?" Muitas pessoas
devolveram quadros comprados, outras agrediram a pintora e suas telas.
Esta foi apenas uma das manifestações
do Modernismo que começava a chegar ao país. Mais tarde, acabou se fixando por
completo a partir da Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo. Foi
esse evento que disseminou as idéias que expressavam os tempos modernos - o
arrojo, o dinamismo e a simplicidade.
A Semana fez mais: denunciou a
alienação das camadas cultas em relação à realidade do país e criticou as
desigualdades sociais, assuntos que, mesmo um século mais tarde, permanecem
atuais no Brasil. Houve vaias e críticas, especialmente dos defensores do
academicismo, mas o resultado foi a entrada do Brasil na modernidade.
Anita Malfatti
Primeira
representante do Modernismo no Brasil. Nasceu em 1889 em São Paulo , que tinha
menos de 50 mil habitantes e ganhava o primeiro transporte coletivo, um bonde
puxado a burro. Teve má formação congênita na mão direita, o que a forçou a ser
canhota e buscar a superação ainda muito jovem. Foi muito bem educada por seu
pai engenheiro e sua mãe, poliglota, pintora e desenhista.
Aos 19 anos Anita
formou-se professora, mas, na mesma época morreu seu pai, responsável pelo
sustento da família. Ela e sua mãe passaram a dar aulas de idiomas e pintura.
Seu talento com os pincéis sensibilizou o tio e o padrinho que a mandaram
estudar na Academia de Belas-Artes de Berlim, em 1910, porém numa exposição,
conheceu a arte “rebelde” cujas regras não eram ditadas pelo academicismo: ela
se identificou.
Em 1914, foi aos Estados Unidos e estudou numa escola fora do academicismo. Ali deu “asas” à liberdade, sua criação eclodiu com força e Anita Malfatti assume um brilho singular. Consagrada, retorna ao Brasil segura de sua arte, e realiza uma exposição individual em 1917.
Porém, Anita com sua nova arte, representava algo muito inovador para os padrões da época, e sua maneira de perceber a arte “desarrumou” o que era aceito até então, causando desaprovação.
Considerada um
escândalo, sua exposição trouxe consequências desastrosas para seu futuro
artístico. Bombardeada por críticas, principalmente do escritor Monteiro
Lobato, então, crítico de arte, justo um dos defensores
de novos rumos para a educação e cultura no país.
Com o título “Paranóia ou mistificação?”, ataca as obras de Anita comparando-as aos desenhos produzidos por internos nos sanatórios, ressaltando naqueles, a sinceridade. Por mais que ele enfatizasse o Modernismo em suas críticas, foi a ela que ele atingiu. Anita, tímida, recuou, murchou e entregou-se à depressão.
Com o título “Paranóia ou mistificação?”, ataca as obras de Anita comparando-as aos desenhos produzidos por internos nos sanatórios, ressaltando naqueles, a sinceridade. Por mais que ele enfatizasse o Modernismo em suas críticas, foi a ela que ele atingiu. Anita, tímida, recuou, murchou e entregou-se à depressão.
Nem a amizade com Tarsila do Amaral e os modernistas brasileiros
convenceram Anita Malfatti a retomar seu traço marcado pelo Expressionismo. Abandonou seu estilo, estudou naturezas mortas,
entregou-se aos retratos e ao decorativismo, e voltou a dar aulas de pintura
desanimando-se a novas aventuras. Como diria mais tarde Mário de Andrade: “Ela fraquejou, sua mão,
indecisa, se perdeu.” Faleceu
aos 74 anos, em 1964, sozinha e sem filhos.
Semana de Arte
Moderna
Realizada
em São Paulo ,
no Teatro Municipal, de 11 a
18 de fevereiro de 1922.
Aconteceu para renovar, mudar, subverter a produção
artística, transformar o contexto artístico e cultural urbano, tanto na
literatura, quanto nas artes plásticas, na arquitetura e na música.
Criar uma
arte essencialmente brasileira, embora em sintonia com as novas tendências
europeias, essa era basicamente a intenção dos modernistas.
Durante uma semana a cidade entrou em
ebulição cultural, sob a inspiração de novas linguagens, de uma liberdade
criadora sem igual, e rompimento com o passado.
Foram apresentados concertos e
conferências, e exposições de artes em meio a barulhentas manifestações
contrárias, vaias, chuvas de ovos e tomates. Novos conceitos foram difundidos e
despontaram muitos talentos. A crítica não poupou esforços para destruir essas
ideias.
A República Velha, encabeçada pela elite do café e pela política
sentiu-se violentada e afrontada em suas preferências artísticas.
No catálogo estavam, além de Anita
Malfatti, Di Cavalcanti, Yan de Almeida Prado, Victor Brecheret, Mário e Oswald
de Andrade, Menotti Del Picchia, muitos outros mais. A música estava
representada por autores consagrados, como Heitor Villa-Lobos.
A Semana de Arte Moderna não foi
considerada tão importante quando aconteceu, mas o tempo revelou seu maior
valor: Libertar a arte brasileira da cópia nada criativa de padrões europeus, e
dar início à construção de uma cultura essencialmente nacional.
Surgiram o
Movimento Pau-Brasil, o Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta, e o Movimento
Antropofágico, e os principais meios de divulgação destes novos ideais eram a
Revista Klaxon, ATHENA Revista de Arte e a Revista de Antropofagia.
Tarsila do Amaral
"Quero ser uma pintora da minha terra". Foi assim
que Tarsila do Amaral definiu sua ambição. Nasceu em 1886 e criou-se na fazenda
de seu pai em Capivari, interior de São Paulo. De família tradicional e rica,
estudou em São Paulo e a partir de 1902, em Barcelona. Ali, aos 16 anos, pintou
"Sagrado Coração de Jesus", seu primeiro quadro conhecido. Em São
Paulo, começou a estudar escultura com Zadig Mantovani, e depois, desenho e
pintura com Pedro Alexandrino.
Em 1920, foi novamente para a Europa onde estudou na Académie
Julian e no ateliê de Émile Renard. Em 1922, voltou ao Brasil e se juntou aos
modernistas, mas não participou da Semana de 22. Junto com Anita Malfatti, Oswald
de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia, formou o "Grupo dos
Cinco".
Suas obras, de cores intensas e temas regionais, seguiam o
conceito nacionalista do modernismo. Em 1928, pintou para Oswald o
"Abaporu". Era uma pintura que poderia facilmente representar o
Movimento Pau-Brasil. Também pintou temas urbanos, como em "São
Paulo" (1924) e "Morro da favela" (1924). Retratou figuras
humanas "A Negra" e "A caipirinha" de 1923, e registrou o
interior brasileiro, como em "Cartão-Postal" e "Sol Poente"
de 1929. Em 1933, com o quadro "Operários", ela deu início à pintura
social no Brasil.
Fases da pintuta de Tarsila do Amaral
Primeiros anos 1924 – 1922
Início do Cubismo 1923
Pau Brasil 1924 – 1928
Antropofágica 1928 – 1930
Social 1933
Dos anos 1930 - 1950
Neo Pau Brasil 1950
Início do Cubismo 1923
Pau Brasil 1924 – 1928
Antropofágica 1928 – 1930
Social 1933
Dos anos 1930 - 1950
Neo Pau Brasil 1950
Sagrado Coração de Jesus - 1926 |
Abaporu 1928 |
São Paulo 1924 |
Morro da favela 1924 |
A negra 1923 |
A caipirinha 1923 |
Cartão Postal 1928 |
Sol poente 1929 |
Operários 1933 |
Paisagem com touro 1925 |
Segunda Classe 1933 |
Batizado de Macunaima 1956 |
Auto retrato 1923 ou Manteau Rouge |
Urutu 1928 |
A Lua 1928 |
A Cuca 1924 |
Antropofagia 1929 |
Idílio 1929 |
Anjos 1924 |
Carnaval em Madureira 1924 |
Estrada de Ferro Central do Brasil 1924 |
Vendedor de frutas 1925 |
A feira I 1924 |
O mamoeiro 1925 |
Paisagem com ponte 1931 |
A família 1924 |
Religião Brasileira 1927 |
A gare 1925 |
O sono 1928 |
Distancia 1928 Assista a este documentário de autoria da Globo News com depoimentos, entrevistas, opiniões sobre o a Semana de Arte Moderna de 1922. Veja as falas de importantes estudiosos deste evento como Lívio Tragtenberg, Nuno Ramos, Marcos Augusto Gonçalves, Eucanaã Ferraz, e a interpretação da atriz Alice Assef. Detalhes incríveis da Semana que marcou o início da Arte Modernista no Brasil. 90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922
Movimentos pós Semana de Arte Moderna
Após a agitação da Semana de 22, novos
artistas foram expondo suas obras. Eles não eram adeptos aos princípios
academicistas e valorizavam a cultura brasileira.
De volta ao Brasil começa a desenvolver
características muito próprias, e a arte dos muralistas mexicanos passariam a ser
parte importante em sua vida.
São famosos os murais do então Ministério da Educação
e Saúde, os da sala da Biblioteca do Congresso em Washington,
o painel “Via-crúcis” da Igreja de São Francisco
e painéis “Guerra e Paz” da Sede da ONU.
De um modo geral, valorizou algumas tradições da
pintura, em telas pintou pessoas em suas relações de amizade, trabalho ou
questões e dramas sociais, como “Meninos com pipas”, “Café” e a série “Retirantes”.
Cândido Portinari utilizou
alguns elementos artísticos da arte moderna europeia como Expressionismo e Cubismo.
Ismael Nery, que morreu ainda jovem,
foi um dos nossos primeiros e mais representativos pintores ligados ao Surrealismo,
movimento que busca sua temática no inconsciente, nos sonhos, nos delírios. Em
sua obra sobressai a presença da imaginação criativa.
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No início dos anos 1930 suas obras já
tinham o estilo que marcaria sua pintura: tons de azul e vermelho em cenas da
vida nordestina como em “Visão romântica do porto de Recife” e “Eu vi o
mundo... Ele começava no Recife”.
Bruno Giorgi também esteve morando na
Europa, e retornando ao Brasil, ao fim dos anos 1930 tornou-se modernista,
influenciado pela amizade com Mário de Andrade. Em 1942, a convite do ministro
Gustavo Capanema, fez a escultura “Monumento à Juventude”.
Na década de 1950 passou a valorizar linhas curvas e formas angulares trabalhadas em bronze, e é dessa época a escultura “Candangos” criado para a Praça dos Três Poderesem Brasília.
Já na
década seguinte trabalhou formas geométricas em blocos de mármore branco, como
a escultura “Meteoro” de 17 toneladas, que parece leve, flutuando no espelho
d’água em frente ao Ministério das Relações Exteriores.
Na década de 1950 passou a valorizar linhas curvas e formas angulares trabalhadas em bronze, e é dessa época a escultura “Candangos” criado para a Praça dos Três Poderes
O grupo carioca Núcleo Bernardelli,
recebeu este nome em homenagem aos irmãos Rodolfo e Henrique Bernardelli, que
contribuíram para a renovação da arte brasileira. Dele fazia parte, dentre
outros, José Pancetti, que pintou cenas marítimas.
Porém, apesar deste grupo ser renovador, foi menos radical. Já o Grupo Sociedade Pró-Arte Moderna continha nomes fortes como o de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral dentre outros, e em sua primeira exposição trouxe obras de artistas modernistas do exterior, como Picasso, Léger, Brancusi e De Chirico. O Escultor Brancusi O Grupo Clube dos Artistas Modernos promoveu exposições diversificadas com concertos, conferências e apresentações teatrais.
Porém, apesar deste grupo ser renovador, foi menos radical. Já o Grupo Sociedade Pró-Arte Moderna continha nomes fortes como o de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral dentre outros, e em sua primeira exposição trouxe obras de artistas modernistas do exterior, como Picasso, Léger, Brancusi e De Chirico. O Escultor Brancusi O Grupo Clube dos Artistas Modernos promoveu exposições diversificadas com concertos, conferências e apresentações teatrais.
Do Grupo Santa Helena vamos destacar Alfredo
Volpi.
Em sua fase modernista, a partir de 1950, Alfredo Volpi deu valor ao estudo da cor em temas muito próprios do interior brasileiro: casarios, mastros, fitas e bandeirolas das populares festas juninas.
Clóvis Graciano privilegia a figura humana procurando expressar movimento. Realizou muitos murais para a cidade de São Paulo como “História do desenvolvimento paulista”.
Em sua fase modernista, a partir de 1950, Alfredo Volpi deu valor ao estudo da cor em temas muito próprios do interior brasileiro: casarios, mastros, fitas e bandeirolas das populares festas juninas.
Clóvis Graciano privilegia a figura humana procurando expressar movimento. Realizou muitos murais para a cidade de São Paulo como “História do desenvolvimento paulista”.
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